quinta-feira, 24 de abril de 2008

Estrada de Belém.

Pela rua passa
uma senhora corcunda,
um homem de bicicleta
que faz a entrega da água
e um moço amputado que pede

moedas pra sobreviver.

Pela rua passa
uma menina que atravessa,
um cego que pede auxílio,
um vendedor de frutas
e um homem que se interessa

em uvas para comer.

Na calçada da rua passa
uma carroça de ambulante
vendendo pipocas e doces,
bombons e cachorros-quentes
além de batatas-fritas

para quem desejar comprar.

No meio da rua passa
um gato domesticado
e um cão desorientado
que pára pra coçar as costas,
mas busca nos lixos, nas valas,

uns restos pra mastigar.

Pela rua, na sombra, passa
uma velhinha doente,
que está com os dias contados,
e uma mocinha tristonha
largada pelo namorado

com as flores que veio a ganhar.

À tardinha, na rua, passa
uma moça com brinco de argola,
um vendedor de pirulitos de tábua,
uma mãe que segura a criança
e um pobre pedinte que implora

esmolas a mendigar.

No fim da tarde, na rua, passa
um padre que pede a bênção,
dá a esmola ao mendigo,
olha pra cruz da igreja, e entra
pra rezar a missa da sexta

e as beatas e as hóstias a voar.

Na rua, de noite, passa
um amante atrasado, ansioso
com o relógio de ouro no braço
e um perfume de rosas barato,
que pôs no cabelo e pescoço

pra a amada singela cheirar.

Passa na rua, no fim da noite
uma mulher grávida.
Havia encontrado o amante,
mas agora corre depressa,
descobriu que vai ser menino

e precisa ao seu noivo contar.

De madrugada, na rua, se ouve
os passos de homens estranhos.
O medo da menina aumenta,
se enrola nas fronhas e sonhos,
passou o dia brincando

e agora espera a noite ceder.

De madrugada, na rua, 'inda passam
meninos distantes, desnudos,
despidos de sentimentos,
com a fome de um dia inteiro,
guardando farelos com fungos

pro dia que vai nascer.

Às quatro da matina invadem,
velhinhos que caminham na rua.
Despertam a dor do sono dos outros,
e correm soltos pra soar os sinos.
Acordam os homens que voltam

à rua, pra poder viver.

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