terça-feira, 7 de julho de 2009

Palavra Pontual.

Vá depois,
seus olhos, seu carinho,
sua viagem torta,
e os anos que passam
sem que você perceba.
Tudo pode esperar.

Vá depois,
sem me levar junto
sem remover o pó velho
de cima dos móveis,
nem me deixar cair imóvel
como a casa que habitas.

Vá depois,
seus sonhos, suas metas
seu terno de linho,
seu traje esportivo,
seu penteado
e o dinheiro do dia.
Tudo pode esperar.

Vá depois,
mas sem me levar
sem me tomar os órgãos,
nem me afagar as mãos
na despedida.

Vá depois,
que eu colho,
que eu arrumo,
que eu teço,
que eu lavo.
Vá depois,
que eu imploro.

Vá depois,
não sem antes me dizer
onde estão meus livros,
onde deixei um ou outro sapato,
onde guardei lembranças,
onde perdi minha pele.

Vá depois,
e aí recolha o vestido com calma,
dobre bem a camiseta
e reflita como queira
sobre o que te espera
e sobre o que farás.
Não tenha pressa.

Vá depois,
pra depositar tua ansiedade
que não tem idéia de amanhã,
pra depositar esperanças
onde esperas que há.

Vá depois,
seu orgulho, seu medo,
seu saco de pão,
sua coleção de vazio,
seu canto de quarto,
seu armário oco.
Isso pode esperar.

Vá depois,
e me olhe agora
tal como sou,
num sussurro.
Pois agora tudo espera imóvel,
toda a mobília e os insetos da casa,
a nos olhar de relance,
a aguardar minha palavra,
desejosa de falar qualquer coisa
que não te faça ir mais nunca.