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O que seria do mar,
se a cada mês
a maré não morresse?
Pra não deixá-lo revolto
com a angustiante saudade
das águas que partem
à lua nova.
E o que seria do mar, então,
se o traiçoeiro horizonte
não abrigasse, sempre,
a falsa esperança de se chegar?
O que seria do mar, enfim,
se o seu rebento na rocha,
não fosse a pancada pra lhe retirar
de um profundo luto de maré morta?
É pra desanuviar os sonhos,
depertados pela lua,
que o mar parte em aventura
pra desembarcar em outras praias,
enquanto aqui,
acalma o silêncio
na maré baixa.
Mais um astuto infame gosto
dessa esclerose de sonhos.
Parece que Lívia aperta seu cinto,
Parece que Lauro aperta a gravata.
Todos se enforcam
todo santo dia.
Inconsequente rotina.
Na sala alguns morreram,
a maioria de tédio,
o resto, remorso e dor.
No quintal outros jazem
calados.
Foram às casas,
se escondendo aos montes,
túmulo sobre túmulo,
rebelados pela desventura,
rebelados pelo choque.
Agora jaz o intelecto.
Cada corpo, um mortuário.
Cada mente, um cemitério.
Calaram, ambos, os desafetos.
Lívia e Lauro são santos agora,
nomeados como irmãos.
Mal sabem os dois do seu destino,
Santos das Causas Infelizes.