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De tanto vermos correr a lebre de nosso momentoe nem termos a vaga idéia profanaou, sequer, a chance do arrependimento,nos vemos à deriva na vida,onde a fruta, já apodrecida,é colhida à toa, sem sentimento.Nós vemos correr esse tempoe esse tempo, lebre, como experto voa.Não lebre, sem asa, mas ave,pois o tempo destoa sem pensar no tempo.Nós que indagamos como ele, traiçoeiro, agesem nos importar, inertes, com o valor do que falamos.Não queremos correr, mas corremos.Não queremos pensar, mas pensamos.Pois, na correria do tempo,seja ele ave ou lebre,sem querer, mesmo pensandoé por ele que, sendo levados, estamos.Não quero pensar que ele se liberta.Desejaria aprisioná-lo se me fosse viável,mas o tempo é ser humano estranho, improvávele dele não se há de extrair resposta certaou certeza que ache nesse mundo incorretoou esse mundo incerto em seus planos e metas.
É só dizer: - Não te quero.- Não te quero, e vá embora.Pra eu não dizer que te esperoe te espero mais, como agora.É amarga minha hora, meu anseio e penarque aqui, junto a todos, qualquer um assiste.Só quero dizer-te para de mim lembrar,sem me achares tão tolo nessas horas tristes.É só dizer-me três palavras amargas,que engolirei eu mesmo minha dor- Não te quero. Nem quero amar-te.E irei embora, tão sozinho quanto hoje sou.Não adianta guardar o que hoje me mostras,pois não sorris pra mim daquela forma radiante.É de mim, que eu já sei, que tu não mais gostas,apesar de querer-te, estrela, assim, cadente.Não andas tão quente quanto antese teus instantes comigo são eternos.Vês o tempo passando nesse teu inverno,branco, seco, e ao meu lado, distante.Pra mim ainda és pérola, estrela, pois não tenho vergonha de amar-te.Pena que teu amor é cadentee com minha rede não há como segurar-te.Segue teu rumo nessa hora em que choroe não olhas por mim, que eu mesmo olho.Não pensas que me abandonas por toda vida,pois tu, estrela cadente, no céu da minha lembrança ainda brilha.
De ver-te pensei seres tão bela, mas amarga eras. Eu não sabia.De verde, tua luz refletia na dança, singela.Eu sendo criança nem reparei como me olhavas, esguia, de trás.Deram-te asas, em cores rubras,intensas, como a ti mesma,de contraste com o verde,que de tanto verde,de tanto ver-te,me envergonhei.Não soube falar três palavras:- Como te chamas?E de ervas verdes te camuflavas,e te inflamavas tuas chamas.Tu queimavas, e eu ardia,como a ti, que fantasiada de tu mesmasem querer me olhava, e eu não sabia.Na tua dança singela eu vi sombras de menina,em teus passos leves e em teus sorrisos suaves.Pena que o tempo tenha feito esse momento tão brevee que eu, mesmo falando menos de três palavras,pensei em ti nesses três diasmais do que havia antes imaginado,mais do que havia eu programado.Pois surgistes na frente de todas,e tomastes teu lugar, furtiva, displicente,amarga.Não quero tolher tuas asas de anjo, mas se pudesse eu, tomá-la de repente para mim,como nos sonhos que sonhei nestes dias, e me fazer conquistá-la, para simplesmente não estar só aquineste banco, pensando em amores estranhoscomo um marmanjo de vinte anos.Se eu pudesse tê-la e transformar esse rio que formou-se mar,pois era apenas um beijo, doce amarga, que ansiava em te dar.Não me faça verde agora,nem me faça soar triste o som do dia, pois quero ver-te, se puder, agorapra me ver feliz enfim, se isso existe.Não descobrir ser tu tão amarga e tolatalvez fosse melhor do que ver-te e estragar o pensamento que tive.E como ervas és, que nem percebi!Pois mesmo falando a ti como um amigo,em conversas tolas onde nem mesmo consigoultrapassar o óbvio,vejo que, de mim, dei demaise tu em nada de troca me destes,nem sequer o desejo de ver-me um dia maise dar-me uma chance pro que eu dissesse.Mas vi, doce amarga,na tua contradição,um motivo maior pra parar de pensar em tie sair por aí, cantando.
Posso até esconder em meus cadernos,nos escritos que deixo entre folhas espaçadas,o sentido de um amor repentino.Mas não sei que fruto é esse,que pode fazer parte, simplesmente, da imaginaçãoou que pode ser criado mais profundamente,em confins mais humanos do coração.Para isso não tenho respostae resposta, mesmo assim, não deve haver,pois, amar ou admirar, por assim dizer,é uma resposta que somente o tempo dará.Enquanto isso...eu sigo esperando, ansioso,como quem não quer esperar.
Eu tive que vender sete livros de minha estantee os títulos de renda aculados por minha mãe em dez anos.Eu tive que vender meu sofá de couro imitadoque grudava as costas quando me deitava sem camisa.Eu tive que vender a televisão que viae os jogos que assistia à tarde antes do Faustão.Eu tive que vender o ingresso que tinha para o clássicodo Sport contra o Náutico e ficar em casa para tentar vender as camisas falsificadas que havia comprado na Dantas Barreto.Eu tive que vender meus cd´s piratase os originais também.Eu tive que vender os três quilos de feijão verdeque havia juntado pro meu aniversário na semana que vem.Eu relutei em vender a poltrona velha que tive até onteme que havia ganho do meu avô pouco antes de sua morte.Mas vendi.Eu tive que vender meus dias de folga e anos de trabalhonuma empresa lucrativa do ramo de energia elétrica, cujo nome eu prefiro não citar.Eu tive que vender alguns móveis do meu quarto, o criado-mudo e o guarda-roupa.Agora deixo minhas roupas sobre duas cadeiras de plásticoque peguei emprestadas com a vizinha de baixo,depois de vende-la algumas camisas novas.Eu tive que vender o direito de me apaixonar por uma atendente de telemarketing que morava lá em Candeias.Eu tive que vender, inclusive, meu celular comprado naquela mesma ferinha da Dantas Barreto.Eu tive que vender moedas antigas que minha mãe guardava em uma caixinha metálica de biscoitos antigos que se diziam finos.Eu tive que vender paixões roubadas e dizeres não ditosa uma menina linda que encontrei em minha adolescência.Eu tive que vender santinhos de gesso que minha vóacumulou durante anos e que enfeitavam seus móveis.Eu tive que negociar com os anjos da guarda minha proteção,e ainda exigir minha bênção, sem dinheiro vivo nem dízimoa se pagar mensalmente, e já com atraso, ao paroco da igrejanova, aqui perto de casa.Eu tive que jogar a Deus minha sorte pra não vender minha almapra um ser errado das histórias da bíblia.Eu tive que vender botas furadas e sapatos usadosque já haviam sido usados por um de meus tios.Eu tive que vender o olhar da moça que passou de mãos dadascom o namorado e olhou sem pudor para mim.Eu tive que vender os risinhos e desculpas que ela deu pro namorado.Eu aluguei meus cintos pra serem usados, cada fim de semana,num evento diferente daqui do bairro.Eu tive que vender o lixo orgânico e o reciclávelque quase nunca vinham tirar daqui da frente da casa.Eu tive que vender, com pena e tristeza, as mil cartas apaixonadasque juntei durantes anos. E com elas, as lágrimas sincerasde um amor bonito que tive e que guardo até hoje,se não tiver que vendê-lo também.Eu tive que vender o amor.Eu tive que vender as poluções noturnas que tive com a meninamais linda do colégio.Eu tive que vender, inclusive, as fotos que tinha com a turmada oitava série na festa em que bebemos vodka pela primeira veze eu peguei a Renatinha, que se dizia CDF, na escada do prédio da Paloma.Eu tive que vender circuitos elétricos, garrafas de whyski nacional,bombas de efeito moral, drogas leves e outras coisas que me deixavam ligado.Eu tive que vender rolhas de vinho e o vinho, envelhecido em garrafaspostas em estantes de madeira que o cupim já havia corroído.Inclusive as vendi também, não sei como.Eu tive que vender minha loção pós-barba que comprei com tanto custoapós descobrir que tinha a pele sensível. Frescura, né!?
Eu tive que vender desodorantes vencidos, sopas guardadas em potes de sorvete, meias com furos na ponta do dedão,sandálias usadas durantes anos, sacos com sementes vermelhasque haviam caído de uma árvore estranha, sons e ruídos que havia escutado durante a infância, cheiros e aromas que havia sentido e as lembranças.As boas lembranças, e as ruins também.Eu tive que vender tudo que não fiz de bom pra ninguém e que devia ter feito.Tive que vender meus sonhos e sabores.Tive que vender o banho de mar às cinco horas da manhã,e as aulas de natação às seis.Tive que vender a sensação gelada da água fria da piscina do clube.Tive que vender meus sonhos e os da minha mãe, que queria me ver formado em alguma coisa, mas não dá.Porque tive que vender minha honra e minhas calças,pra pagar o vale B do Rio Doce/CDU que pego todos os dias.
A América nos presenteou com armas, nos deu a guerra.
Vamos engatinhados rumo à paz,
aos sonhos breves e nascimentos tortos.
Dentro de nós estão seres desacordados,
presos ao desconhecido e com medo do mundo,
mas de mansinho voamos
e indagamos a todos nossa essência.