quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A Noite.

A noite é cheia de lábios
coberta de ventos
e suores noturnos.

É cheia de angústia
repleta de toques
e pousa sacana
sobre a pele dos homens.

A noite é toda sensível
e sua carne molhada,
tão cheia de dedos,
não aprendeu a ser lei de ninguém
não aprendeu a ter fome.
A noite sempre está satisfeita.

A noite, repleta de olhos,
observa os que passam.
No meio da solidão
a noite faz o escuro
cheia de nudez,
farta de melodramas,
ávida por sabores.

A noite cansou de ceder à fraqueza
d'um amor gasto, sem fim nem saída.
Agora tenta ver beleza nos outros,
retoca a perversidade na maquiagem,
nos roupas decotadas,
nas unhas que ofuscam.

Não aprendeu a ser terrena.
Não aprendeu o que vale mais,
se o consolo do chão
ou a louça desmanchada nos ares.

A noite não é,
nunca foi inocente.
Apenas aprendeu
que o desejo dos poros
às vezes importa mais
que a substância efêmera
do seu próprio suor.

A noite, repleta de bocas,
também se ilude
e agora cospe a desconfiança.
Não aprendeu as boas maneiras,
não viveu ainda o suficiente,
não correu todos os riscos
pra dizer que o raiar do dia
a tornou completa.

A noite precisa de mais.
Vai afogar seus fantasmas,
vai encharcar os cabelos
e se banhar desnuda
no mar bondoso
de uma manhã de maio.