domingo, 18 de maio de 2008

Insoníferos.

Eu vou fazer a barba com pinça,
cortar os pulsos de verde.

É nesse momento que me arrasto à porta,
miro, caótico, meus olhos vermelhos
e prendo meus dedos nas fendas enferrujadas.

Eu vou cortar meus cabelos baixos,
como um louco,
pois eu acho pouco essa ferida baixa,
essa dor calada.

É nesse momento que me olho profundo no espelho
e choro, neurótico, uma lágrima que corta.

Meu pranto tem sabor de desvelo,
saca a própria arma do bolso
e atira uma bala à nuca.

Não perco o prazer de olhar o espelho,
enigmático, pois é agora que ao atirar
a chuva nasce, como num resvalar de pingos
nas palhas dos coqueiros.

Minha lágrima irriga os pensamentos
no sul de meu corpo,
e alimenta a insônia rouca das madrugadas.
Muda como a solidão.
Calada.

Me faço indagar três semanas de alegria
e planto, no mato, no póro, sem alvará,
um choro, um pranto, um raio de sol.

É nessa hora que mato a lágrima,
e que a esperança se espalha, como um vírus.
Não olho mais pro espelho, e me esqueço.
Minha face me cansa, e meus olhos.

Parado de noite penso na vida.
De que adianta a liberdade só?
Se não há a quem dar no outro dia:
"Bom dia, flor do meu dia,
bom dia, raio de sol."?