quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

As Duas Vias.

Um canavial
havia
um carnaval
havia
aviador
avião
ao avesso
viajava
no vapor
dos versos
à trovoada,
no vendaval
havia
as veias
da viagem
como vértices
como vírus
dividindo
o vento
veloz,
ao ver
que o verde
da vã divergência
não vislumbrava
o valor
do canavial
que a via
vendida
na avenida
na veia principal
as duas vias
da vida,
desde onde veio
até onde vai,
e onde há
depois.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Carta ao Pai.

Tem razão,
a escolha está nos passos
no limpo aspiro dos contidos
na temporada certa
nos dias incertos
na noite calma.

Tem razão,
o tempo está nos olhos
na boca e nos sentidos
impresso nos lábios secos
de quem um dia
viu a vida limpa
através do cristalino.

Tem razão,
a razão está nos sábios,
mas muitas vezes nos meninos,
nos loucos, nos mundanos,
na alegria

e na perversão.

Tem razão,
eu, um dia, me acabei pelos dedos,
retirei o pouco de pó dos cílios
desfiz minha genética,
desfiz minha carga cultural
desfiz a maquiagem velha
e saturada de uma face febril
e vi um mundo mais simples,
bem como me havia dito.

Tem razão,
a vida depois de nós
é feita pros filhos,
pros netos,
é feita pra se esperar
tranquilo
um futuro imediato
e incerto.

Tem razão,
nem toda escolha é correta,
nem toda aflição tem sentido,
nem todo beijo é sincero,
nem todo filho é bom pai,
nem todo pai aparece,
nem todo pai padece
na memória do filho.