quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Naufragar.

A naufragar poesias
a fragata do mar
segue, à manhã fria,
a fragilizar versos
a favor do vento.

A força do mar
- e o mar vicia -
é avistar tais versos
em poesia e afundar
tristezas no horizonte.

A afogar silêncios,
fortuitos dias,
as fortes frotas
navios, fragatas,
em forma de estrofe
com o vento, vão.
Solidão de volta.

A fazer fortunas
e viajar às brumas
sem se ver além,
através de espumas
desse mar revolto,
navegar a solto
sem toar o barco.

A naufragar as rimas
e enfrentar os riscos,
à calmaria, flutuar ao mar
frente a neblina e fingir
conquistas a alcançar.

Além da vista o vento
segue à sua curva, alado,
a um longínquo horizonte,
à maré fria, sem afastar
o foco, medo do fracasso.

Lamento de Amor Submisso.

Meu passo é ele,
meu relógio, meu tempo
e o passar das horas.
É ele quem espero
antes de anoitecer
e teço, calada, o nosso sonho,
vestindo as paredes da casa
e aquela cama vazia.

É por ele que me desfaço
e disfarço o rubor da face
quando sorrio docemente,
ao ver seus olhos apertados
olharem firme os meus
num dia qualquer,
numa semana qualquer.
Pouco importa o tempo.

Meu passo é ele,
meu ritmo,
assim como andam ritmados
os ponteiros que fazem os dias.
Meu marcador das horas,
esperando a sua volta
desde que a porta bate.
É ele quem me toma aos braços,
quando chega,
e me faz flutuar
até o quarto.
É ele quem recebo,
sem nunca cansar
o prazer de recebê-lo.

É nele que penso,
não há mais quem eu pense tanto
nem inspiração maior,
porque meu passo é ele.
Juntos somos carnaval
somos noite, festa
e faço assim meu disfarce
como se fosse submissa,
deixando de lado as roupas
pondo meus pés no chão
e os olhos lá no céu
onde, provavelmente,
a alma dele fica
quando nossos corpos voam.

É por ele que faço
a alegria dos dias,
sabendo mentir e fingir o meu sono
quando na verdade sou eu
que velo pelo sono dele,
sabendo mentir e fingir as tristezas
pra, quem sabe, negar
essa nossa existência,
suor de rotina e de tempo,
e assim fazer dos dias
uma entrega feliz,
sem medo de sonho.

Meu passo é ele,
meu corpo,
meu suor,
talvez o sangue que corre
e esse meu calor.
Com sua mão a moldar
e o meu sopro de vida
nascer, como uma muda,
desaguando meu choro
como a água da chuva
a salivar uma seiva noturna
como uma lágrima.

Meu passo é ele,
meu tempo,
meu espaço.
Mal sabe ele,
no entanto,
que eu também
sou o seu passo.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Mensagem.

Mãos e mímica.
Metas e meios.
Roma e ramo.
Morte e malassombro.

Mãe e monotonia.
Medo e metonímia.
Rumo e rima.
Manhã e madrugada.

Não sei por quê,
mas tudo hoje
me pareceu
meio mórbido.

Amor Igual.

O que importa a nós
se os nossos sexos são iguais?
O nosso corpo é tão somente porta-voz
de um amor absoluto
suave e destemido
que nasce sem sabermos
e não sabe o que carregamos.

O que importa a nós
se as nossas vozes, tão iguais,
carregam o rigor dos rostos?
Nesse teu rosto, além de olhares,
só encontro afeto
na minúcia dos poros
e na cor desses olhos em que me vejo.

O que importa a nós,
se aqui, à sós,
longe dos olhos que te reprimem,
somos seres completos?
Se embaixo desse teto
só eu te vejo nu.
Aqui, sinto o mesmo que lá fora.

O que importa, agora
se não nós
e o que sentimos?

Não teme a mim,
portanto,
se deter-me
é mentir
a teus sentimentos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Corpo/Carnaval (Reencontro).

Que alcoólico!
Não pensei em refutar aqueles braços
que cheiravam a carnaval.
Seu corpo estava em festa.

Ali, naquela baixa luz
onde tudo era baixo,
dançando sem pudor
até quando puder.

Parecia haver nela
tamanha paixão e loucura.
Seu corpo se agitava,
e nós descíamos a ladeira.

Mas por que ainda há
em mim essa imagem,
se seu corpo era só vertigem?

Por que sua boca ainda
parece impressa aos lábios,
assim como uma prece à cabeça?

Por que toda aquela pressa
de me amar,
e me tornar imenso?

Nos seus braços e nas mãos,
enlaçado aos meus pés,
um calor de céu
a não sei quantos graus.

Nos seus olhos tenebrosos
havia um tempo acumulado
de quem já havia me esperado
de algum outro carnaval.

Talvez essa fosse
a sua angústia.