quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Poesia Urbana II (Ao Cair a Tarde).

Ao jantar,
com jeito
de quem quer
comer,
sem jeito,
pois não há
o que
encontrar
só pedir
de fome.

Julga
mais
tarde
que há
solução
joga
os trapos
ao mar,
se junta
a jangada
que parte
atravessando
a ponte
por sobre
o rio
que dilata.
É onde
o barco
atola,
é onde
estou lá?

A lama
lota
e o calor
esgota
o suor
que espalha
o pêlo
da púbis.

Já caindo
de sol
na ponte,
ao horizonte
poente,
o menino
pede
pois pedir
pouco
é pouco
pior
que roubar.

Passa ali
pelo cais
ao cair
da tarde,
troca
o trocado
por três
notas
de dois.
Tenta
faturar
mais,
antes
de voltar.

Passeia
de brisa
ao mar
quando
o espaço
não há
no ônibus,
pois a solução
é surfar
pra chegar
quem sabe
vivo
na virulenta
casa
de subúrbio
e barro.

Mas
pra quê chegar,
se já
não há
certeza
bem como
não há
sorte?

No fim
da noite
com o fio
da fome
pede
a quem vê
e anda
ante
a ponte,
pára
no parapeito,
e pula
mas somente
pra se distrair
na água
suja do rio.

Poesia Urbana I (Ao Ladrar a Noite).

Nota
ao anoitecer
o dia latir
como quem ladra
ao leo.

Nota
o enxame
o reclame
a saúva
que toma conta
da noite.

Nota
o agouro
que baixa
a demandar a angústia
dos que penam
no escuro.

Nota
a juventude
idiota que cai
na rua
a tocar alto
um trote
noturno
de notas
mortas
aos tímpanos.

Nota
a libido das ruas
o erotismo das calles
e as caladas
putas
da Conselheiro.

Nota
a putrefação
do cheiro
das pontes
a inalar
o suor
o lixo
e a urina
do povo.

Nota
a popular
noite
o espectro
que paira
por sobre
casarões velhos
casebres
pensões.

Nota
além da ponte
e enxerga
pra ver além
do passeio
através
do painel
do carro
o pedinte
a pedir um trocado
limpando
o parabrisa.

Nota
às vezes
esse silêncio
que corta
a veia
fúnebre
da cidade
e fica eternizado
em cada ponto
onde dorme
um pivete,
um pirralho.

Nota
nesse passeio noturno
pra aguçar
o tato
pra provocar
o palato,
o cheiro
da fábrica da Pilar
abre as portas
do carro
pra respirar
a cidade
sem se importar
com o assalto
nem temer
o diurno
nem a fome
que outros sentem
por ali.

Nota
ao anoitecer
o dia latir
e a cidade
uivar sem voz
quando o sol
se vai.