terça-feira, 31 de março de 2009

A Inocente Carta à Diana Castro.

Diana,
você que elogiou o palhaço que desenhei no quadro-negro
e elegeu meus traços o melhor de todos.
Você que dividia as manhãs comigo,
estudando aquelas tarefinhas de matemática
nessa pequena escola de subúrbio brasileiro
e dividia os tazos na hora do recreio.

Diana,
você tão paciente a me olhar nos olhos,
a ver, talvez, ali, que havia algo entre nós.
Eu fui estúpido, Diana.
Mas compreenda,
eu tinha apenas dez anos
e você mesma sabe que nessa idade
as meninas são mais sábias.

Eu era um pouco tapado, Diana.
Não percebi nem sequer teu ciúme por Érica.
Mas era dela que eu pensei ter gostado,
mesmo sendo você minha companheira de exercícios,
minha brincadeira nos parques, meus elogios.
Eu gostava insanamente de Érica,
daqueles cabelos dourados
e aquele jeito de levantar as duas mãos
pra perguntar algo a professora.
Gostava tão estupidamente,
que nunca havia falado com ela,
não troquei nenhuma palavra,
até o dia em que ela me mandou sair de baixo
do birô da professora Flávia.

Mas isso faz tempo, Diana.
Nós éramos segunda-série.
Eu não entendia muita coisa da vida,
e os sonhos eram tão vastos
que eu só te descobri agora.

Vamos brincar, Diana.
Agora eu vejo esses teus olhinhos castanhos
e esse rosto bonito de ciúme.
Eu sou tão inocente de tudo, pois sei que só
irei aprender contigo durante esses dias que nos restam.

Eu vi que teu amor perpassa as carteiras da classe,
não se limita a esses muros de colégio,
aos parquinhos de areia e escorrego.
Prometo abdicar às brincadeiras medíocres
que insisto em me meter com os outros meninos.
Agora eu sou doce pra ti, Diana.
Já não faz parte do agora meu conjunto do lego
e aqueles bonecos inertes do comandos em ação.

Eu quero ver teu sorriso todos os dias,
e ir além da hora da saída,
porque quando você vai
o meu coração também parte
junto com a van escolar.
Todos aqueles meninos, Diana,
já não valem mais tanto quanto teu sorriso.
Ramon foi só alguém que emocionalmente te abalou,
porque sempre fui eu que estive aí, junto de ti.
Eu quero meu lugar de volta.
Eu quero dividir meu lanche,
essas maçãs que minha mãe insiste em colocar na lancheira.

Eu sou grato a ti, Diana.
E ao que vivemos juntos.
Só enxergo você,
nos meus próximos passos
e no meu caminho.

Com carinho: Bernardo.

Poesia Caótica e Autobiográfica.

Não sou ser somente pálido,
criado no berço materno
pra ter medo da rua
pra temer a noite.

Não sou ser somente tímido,
que divaga no vão dos pensamentos,
a intimidar pretextos sós e melancólicos,
diálogos de dias cerrados,
travados nos sonhos, nas nuvens,
criando afagos, amores,
a condenar a própria mente.

Não sou ser somente sólido,
de pele e osso simplesmente
a sorver emoções vagas
e a travar a luta dos tempos.

Não sou tão assim polido,
pudico de possibilidades,
pungente de pretensões
na passagem perdida dos instantes.
Cáustico, caótico e enigmático
a aspirar poesias de pouco valor,
aspirante a aspirador,
tentando pensar,
tentando enxergar além do mar.

Palavras Aleatórias de um Minidicionário da Língua Portuguesa.

Heterônimo corrente.
Sônico movediço.
Desaprovar atirado
sobrepujante higiênico.
Costura balão setecentista,
desgarrar rolo, precaução.
Tonitroar, falir.
Negativo caiapó assemelhar.
Sub fulgor ritmado imo,
charqueador ornato.
Apostemar neuropatologia.
Escandir pontificado.
Imperiosidade tramontar.
Criador.
Superego.