terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Arranha-céu.

Subi três degraus
dos arranha-céus,
dolosos troncos falsos na terra,
fincados na dor dos outros,
lustrados em água de sal,
dolorosos céus,
pintados da cor do mal,
no penhasco, na encosta,
no abissal humor,
mal oceânico.

No alto arranha-céu,
penosos degraus
calorosos graus
de um sol tropical
entre os trópicos,
cancerígenos,
capricorniais,
acima do que suportam
os meus olhos normais,
que ardem além
dessas temperaturas.

Aquém demais,
a quem, às quais?
Subi alto às três,
às dez,
subi mais além
em tal viés de escadaria,
ao invés de me ausentar
no inferno,
e pensar, rancoroso,
no medo da morte.

Sem calar minha boca,
ao ceifar o calor nos lábios,
e pôr meus caminhos nos trilhos,
plantando a dor latejante na testa
a resvalar nos cílios.

Parece que subi mais
na minha tez,
ao invés de morrer,
fui percorrer o meu corpo
de vez.
E despolido passeei sem pudor,
sem pensar no pútrido,
no químico,
no orgânico.

Nos degraus,
do decrépito arranha-céu,
eu vi minha vida voar do alto.
Não invejais, no entanto,
essa posição de sol
nem essa sorte,
de ver do alto
a calamidade,
a cidade,
o assalto,
o sublime.

Não inveje, portanto,
essa morte minha,
o salto, o pulo,
a visão de todo
esse mal.
Galgue aos poucos,
teus graus,
teus degraus,
teu céu.

Me acorde, então,
às três, às dez, ou depois,
ao subires mais
e mais.

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