quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Poluição.

Por entre latas de óleo Soya,
tampas de margarina,
pacotes de biscoito Treloso
e sabão,
eu não nado.
Fico em terra,
tomando água de coco,
enterrado.

Em meio a sacos de açúcar,
latas de cerveja,
absorventes usados
e garrafas PET,
eu não nado.
Não sou fardo que a terra carregue,
nem sou lixo
bronzeado.

Eu não nado se o mar é turvo,
se o vento é sul
e traz sujeira de um rio podre,
se a brincadeira do banho
é catar bisnaga de desodorante vazia,
sapato usado,
chinelo velho.
Resto de mar.

Por entre meus dedos
não passa o sangue escorrido de ratos,
não passa o marrom de águas viscosas
de um infeliz rio Capibaribe
de cachorros mortos,
do choro inesplicado dos mendigos,
dos esgotos dos ricos moradores de áreas nobres,
das fezes da população de áreas verdes.

Poetas de antigamente hoje lamentam
o Capibaribe dos sacos plásticos,
dos copos descartáveis,
dos olhos desolados dos descolados jovens das ruas antigas,
da sujeira cinza do diesel,
do óleo dos navios mercantes
impregnado nas margens do rio,
onde poetas eternizados em concreto armado choram.

Não cubram a face escura do rio
com a lona negra dos morros,
nem tapem o corpo imundo do rio
com o pano branco dos mortos,
pois ainda sobe o cheiro,
às narinas de turistas fascinados
e pescadores esperançosos,
da urina e da putrefação dos bichos.

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