quinta-feira, 9 de abril de 2009

Mingau das Almas Matutinas.

Toma cuidado, menina.
Fecha essa porta que dá pra rua.
Lá atrás dos morros,
esses que tu vês
logo ali no horizonte,
não existe mais
meu carinho terreno.
São só aves noturnas
e soldados dissidentes
que passeiam atordoados
e ausentes.
Pura penúria.

Toma cuidado, menina.
Fecha os olhos
quando passar no beco
e no silêncio da noite
encontrar espectros,
e tremeres de suor
com a saliva
dos anjos
e das almas.
Seres restritos,
detritos de dor
e de sonhos mutilados.

Toma cuidado, menina.
Com o mingau das almas matutinas.
caladas de injúrias,
presas nas terras
a proferir palavras de apocalipse
em teus pesadelos medonhos.

Toma cuidado com os sonhos,
foge do medo do escuro,
dos barulhos soturnos da casa,
do combogó sinistro,
onde os gatos dormem
e fazem volúpias
à madrugada frágil.

Toma cuidado, menina,
pra que a música
não se torne tristonha
e não fiques pensando
que o mundo é sombrio
e que o quarto
vai amanhecer soterrado.
O medo só traz desgraça.

Toma cuidado, menina,
pra na calada da noite,
não perderes a inocência
e de manhã acordar impura
com os olhos do mundo,
e a excomunhão católica.

3 comentários:

Curió disse...

muito bom,cara. apropriar-se de um texto totalmente vulgar(não entenda no sentido moral) e tentar, com eficácia, torna os grandes sacerdotes(moralistas) vulgares, isso sim eu posso chamar de uma crítica construtiva e poética. Mais um que eu vou espalhar.

Wagner Marques disse...

que pulso poético, hein!

Clara Mazini disse...

Menina, tome cuidados às goladas nas noites de inverno.
Mas nos dias de sol, deixe-os dentro da geladeira e vá desafiar o mundo.

:)