segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Emanar Invisível d'Alma Urbana

Aos olhos do turista,
que no alto da janela despressurizada do avião,
o Recife que ele avista,
tão tarde, tão cheio de si,
não passa somente de uma Veneza,
pois Veneza, Recife não é.
Recife que cresceu,
sem querer perder o charme de ruas antigas
e deixou suas vielas
com o tamanho das veias,
dos cidadãos.

Aos pés dessa terrinha onde ele pisa
com histórias escritas e enterradas,
de um passado que insiste em perdurar,
dormem sonhos bucólicos,
glórias adormecidas,
revoltas sufocadas,
hoje sufocadas na garganta do povo,
nos sentimentos guardados
em ideais da lama
e do suor do centro.

Com os pés na Boa Vista, ou na Viagem,
essa bagagem de turista não almeja,
a profundidade de um Recife
que vai além do que vê sua vista,
ou do que falam encartes,
iscas de passaporte.
A província recifense é quem vence,
nesse encontro onde todos se conhecem,
um Recife de viela,
que nunca deixou de ser vila.
Nem nunca quis deixar de ser.

Dormem sonhos emanados,
dos orvalhos das árvores do Espinheiro,
e dos telhados envelhecidos de São José,
com seu cheiro de mofo,
com sua madeira podre,
e a alma distinta,
de um povo que a toda hora é nobre,
e a toda hora se diz grande,
espelho onde o mundo mira,
onde o mundo se transforma,
onde o mundo, simplesmente, nasce.

Um comentário:

Anônimo disse...

meu velho se vc ficar descrevendo o Refice dessa forma, todos os peotas vão querer conhecer essa cidade esse povo. a ultima estrofe diz tudo.