quinta-feira, 19 de junho de 2008

Os Conselheiros da Noite.

Às onze da noite deslizo,
na cama com insônia,
sonhando suado
nos vãos espaçados
dos nós da cama.

Dos nós que desato,
no sono do leito,
anjos e diabos voam soltos,
rios e riachos deságuam revoltos
sussurrantes no extremo lá da foz.

Meu corpo transmuta a objeto
na ponta da cama em que me deito,
onde projeto sonhos, desejos, dejetos
e bem perto da cabeça passam
gotas de luzes,
sono abscesso,
dentes podres,
textos pobres,
doces ilusões.

Atrás do pensamento onde corre
esse momento noturno que agarro,
nessa insônia em que acendo um cigarro,
e paro pra pensar nos detalhes do dia,
na viga da rotina encravada
na espinha dorsal do meu corpo
e do corpo de um mundo todo,
cheio de mim, e egoísta,
com medo do escuro
antes de dormir.
Esse dormir que não chega.

Não me deixe aos peixes dos lençóis da cama,
essas ferozes presas de escama ardente,
com o seu veneno pleno e tão feroz de serpente,
e seu calor de delírio que me alimenta a chama.

Não deixe essa insônia,
rio, riacho,
grama e pasto,
acabar com o sonho do menino,
com as angústias sadias, secretas
que correm velozes como um rio.

Me deixe que grite a tais sussurros,
e alto o meu urro atinja a lua,
me solte tão louco nessa vida crua,
nesse mundo calado, cansado, inseguro.

Gritando mudo na cama,
minha veia inflama a tais desvarios,
a saliva das almas deságua em rios,
que saltam da boca,
mínguam entre lençóis manchados,
e se fundem às entranhas da pele,
e aos bichos que dormem
por sob minha nuca,
sob meu teto,
e meu pensamento.

Por entre anjos, se afasta sorrateiro o demo
e se acanha soturno embaixo do travesseiro,
pra dormir, conselheiro, aos meus ouvidos loucos.
Então, de manhã, quando menos espero,
pronto pra um dia que amanhece altivo,
acordo desperto e encerro a noite, vivo,
com a alma tranqüila e endiabrada.

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