quinta-feira, 4 de junho de 2009

A Partida.

Ele parecia ter rompido o segredo,
destruiu as tulipas, os pratos, as taças.
Abandonou o segredo junto com a casa.
E parecia ter partido.

Ele parecia revolto
com palavras breves
com gritos fortes,
a madeira absorvia na parede,
os vizinhos resvalavam na porta
esperando ouvir algo.

Ele parecia ter rompido o segredo,
as palavras de amante, o sexo,
a soma de prazeres,
mentiras sujas,
roupas sujas
e parecia partir,
com aqueles olhos na cara,
a selva enigmática de sonhos
de sutilezas e de segredos rompidos.

Não sei se era desgosto,
desfez as mágoas no líquido,
assombrou papéis,
desfigurou a porta,
e transpassou meu peito roto,
rompendo planos, poemas,
me pondo só.

Ele parecia quieto,
em outrora solto,
mas pisava em ovos.
Minha palavra nada valia
para que o prendesse.

Ele parecia haver rompido o segredo,
o segredo do pólen, das frutas,
o segredo do sangue,
do abismo, dos santos,
das putas, do hímen,
da fálacia, do fálico,
da felação impura, ardente.
Aquele segredo de amantes.

Não sei se era o futuro
amedrontando seus olhos,
a casa correta,
a linha correta,
a pureza pútrida
da putaria da vida.
Que raiva eu senti
da normalidade,
que raiva eu nutri
do resto.

Ele parecia haver rompido tudo
e partia.
Partia dos meus olhos,
dos cômodos comprados pra cada
canto do apartamento.
Partia meu rosto,
na ferida de apenas romper
a casa partida.

No assoalho de tacos,
nos tapetes, nos lustres,
nos vitrais do armário,
nas bebidas quentes,
no abajour do quarto,
nos livros da estante,
na mesa de centro
onde jantamos
e nos comemos.
Tudo ali era resto,
ele parecia haver partido.

Ele parecia haver rompido o segredo
o segredo das noites,
o segredo das portas,
o segredo dos pratos,
mas os cacos da louça
nem sequer esperaram o lixo,
pois agora ele voltava,
irrompia na sala
pra me romper mais ainda,
com a delicadeza dos passos,
com a finura da boca,
com aqueles olhos que me diziam
que tudo era mais simples na vida
se o seu lugar fosse ali.

Um comentário:

João Romova disse...

partir, então, é grito, é louça quebrada. Partir é aceno, é caminhada tranquila...