quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Poema da Madrugada.

Não há raiar do dia, nem rancor
quando os meninos da noite não dormem de madrugada.
O rancor de quem os ignora, neles não há,
mas agora se projeta nos sonhos, ou pesadelos.

Não há rancor no raiar do dia para quem dorme
em caixas de papelão, cavaletes, muros,
casas de pedra e paralelepípedos.
Não há rancor, nem dia, mas só enquanto dormem.

Os meninos pensam em suas mães,
dormem por elas.
Mas o futuro não há.
É o que elas têm dito desde que eles nasceram.

Não há futuro para quem dorme
enquanto homens, de fato, ainda estão acordados.
O menino não pensa de madrugada,
mas ao dia, na injustiça do dia, à luz dos tiranos, eles sentem raiva.

Não há mar, não há. Nem natureza.
Nem há sentido para a vida mesquinha,
gente mesquinha, seres desonestos.
Não há espaço pra sonetos.

Um rato passa entre seus dedos pretos, enquanto dorme.
O menino, de madrugada, acorda.
Ele não come há três dias, e não toma banho há uma semana,
mas é ele quem sente, de madrugada, a podridão do mundo.

Nenhum comentário: