segunda-feira, 17 de março de 2008

Poema Egoísta.

Nessas horas que penso em mim, e que imploro pena por mim,
o que me importa o mundo e seus pormenores?
O que me importa a vida dos outros e a fome?
As invasões de terra, as enchentes, o lixo,
a preservação midiática dos recursos naturais hídricos,
da floresta Amazônica e a transposição de rios?

É o egoísmo, que carrego escrito em minhas mãos,
sujo em cada vão das minhas impressões digitais.
O que me vale a redenção católica?
O bem aos outros, o assistencialismo,
se toda essa ajuda é impressa, social-publicitária,
pneumatológica, escatológica, estratosférica,
e tão igual a esse meu egoísmo.

Eu vi a vida escorrer entre os meus dedos sujos de egoísmo,
fui tolo e ausente, sério, pálido, sistemático.
Não vi esperança, nem ódio.
E quem me dera eu tivesse visto o ódio...
Não haveria de ser tão doente,
cáustico e claustrofóbico.

Essa doença é como a de todos os outros,
que andam animais como tantos.
Ando devorador de pensamentos alheios.
Os reescrevo como meus, e os devoro.
Em todos os natais solidários.
Em todos anuários de votos em carnavais.
Em todos os sinais de trânsito,
e as fotos sorridentes de candidatos puros.

O que me importa, de novo, a dor alheia?
Os olhos fechados dos cegos,
as batalhas travadas entre os colossais egos de tantos demais.
O que resta agora sou eu,
com o egoísmo e a ironia,
sem a impertinência constante e confusa dos normais.

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